sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Novo quarto

Esse texto é pessoal e um oferecimento de amáveis tardes de chuva junto com perguntas da minha mãe.
Todos os erros de coesão são minha culpa e não pretendo conserta-los.

Não creio que devesse chamar de novo um quarto que já me pertence a três anos praticamente, entretanto em contraste com os dezoito anos de quarto rosa com verde, parece de fato  um tempo irrisório. E só agora ele vai tomando um formato com os detalhes e bagunça usuais e nem de perto está completo.
Tem a parede creme que falta cor, para isso preciso testar a cola de contato antes de estragar a pintura.  Tem o baú gigante que guarda todos os cadernos praticamente da minha vida além da coleção de mangás devidamente ensacada, que em breve irá se tornar um banco também, assim que eu achar duas almofadas do tamanho das tampas e coloca-lo encostado na janela.
Tem a "arara" com as roupas de inverno que só me fazem pensar que eu precisava estar morando na Europa, que eu preferia que não estivesse apoiada naquela parede. Tem o armário gigantesco, que só uso um quinto dele, mas que pelo menos esse um quinto encontra-se arrumado e as gavetas coloridas.
 Tem dois quebra-cabeças de mil peças colados que ainda não foram emoldurados em cima da escrivaninha, assim como um quadro do Wolverine que eu nem sei como abandonou o quarto do meu irmão para invadir o meu.
Tem o quadro magnético com lembranças de anos atrás que não tenho coragem de retirar. Até porque tem a parede preta para eu escrever com giz e colar o quanto eu quiser. Tem os origamis espalhados pelo quarto, assim como o dsi sempre em algum canto. Dentro das gavetas da escrivaninha, tem os jogos de PS2 que eu não gosto tanto e quando não estão na minha mochila, os cadernos do momento. Tem as Mundo Estranho e revistas de arquitetura e o livro sobre as maravilhas do mundo e no momento o livro do Museu D'Orsay.
Tem cinco prateleiras, com meu tabuleiro de xadrez de pedra sabão (porque o de barro fica guardado), a coleção de YuYu Hakusho, uns poucos dvds, quadrinhos do Charlie Brown e da Mafalda, a prateleira de livros lidos e a prateleira de livros não lidos e livros a serem devolvidos. Tem aquele globo, que tanto me encantava quando era pequena. Tem as revistas da Turma da Mônica que eu quero reler.
Tem os antigos livros preferidos. Peter Pan, Se houver amanhã e Brumas de Avalon contrastando com os atuais 1984, Admirável Mundo Novo, Eu,Robô,  Ensaio sobre a cegueira, O Nome do Vento e A Menina que roubava livros. Tem A República que eu nunca acabei de ler, assim como A Tale of Two Cities. Não tem Crime e Castigo e nem Guerra dos Tronos, mas tem Anne Rice.
Tem o tatu e a tartaruga de pelúcia que vieram para substituir o ornitorrinco perdido e tem o Snoopy abraçado com o Woodstock que eu tanto insisti nos meus anos mais viciados em Charles M. Schulz.
Tem tanta coisa e tem tão pouco ao mesmo tempo. Provavelmente tem mais coisa minha no antigo quarto, agora escritório, do que no meu. Ou talvez seja só impressão já que a coleção de Harry Potter, O Hobbit, a  minha frustração em matéria de livros em inglês, The Silmarillion. Os jogos de tabuleiro -inclusive o War Império Romano quase nunca jogado- e o número enorme de revistas estão lá.
 E se tudo isso se perdesse? Minha mãe me perguntou isso hoje. Tenho certeza que o real motivo da pergunta é: O que você pode jogar fora? E eu concordo, é muita coisa. Muita mesmo. Muita tranqueirazinha, coisas que se acumularam no caminho. E é justamente por isso que é difícil deixa-las por livre e espontânea vontade. Estava revendo algumas folhas com desenhos antigos numa pasta também antiga. Estava pensando como parte daquelas coisas parecem tão estúpidas hoje em dia, mas como significaram antes. E que talvez por isso elas sejam importantes. Para me lembrar do que fazia sentido antes e hoje em dia não faz mais.
Ou talvez por isso elas sejam desimportantes. Porque talvez lembrar como você pensava não seja importante. Tendo a acreditar que o que realmente nos faz únicos é o jeito de pensar como um todo, quando penso que ser único é apenas uma invenção, algo que queremos acreditar. E eu mesma retruco e digo que podemos não ser exatamente únicos, mas com certeza não existe tanta gente igual mesmo a nós por causa do meio que nos influencia e que dificilmente seria reproduzido com exatidão.
E de fato, guardar nada faça sentido já que tudo isso representa uma sociedade que tenta se definir por seus gostos e padrões de consumo ao invés de por sua mente. E que qualquer tentativa de não fazer parte dessa sociedade tendo gostos considerados estranhos é participar dessa sociedade de outra maneira. Que nossas vontades são inventadas e que não tenho necessidade de ter meus livros favoritos. Nem meus filmes (não os tenho de fato, só no hd). Que vivemos de lembranças e nostalgia para criarmos uma certa identificação com pessoas com idade próxima e que de algum modo se conectam a nós e que com essas coisas mostramos o quanto fomos fãs também.
E na verdade tudo isso é tão inútil, supérfluo e extremamente... bobo. Ao mesmo tempo que é importante termos um lugar que aja como um porto seguro. E ao mesmo tempo, esse porto seguro não é necessário porque ele faz com que tenhamos mais necessidade de permanecer ao invés de arriscar.
Foi essa a resposta que dei para a minha mãe. E foi assim que ela desistiu e deixou as folhas, cadernos, revistas, ficarem mais um tempo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Lies

Era muito difícil para ela confiar. Mesmo nas simbles coisas. Diziam que ela tinha um problema grave de confiança. Ela dizia que as pessoas tem dificuldades de serem confiáveis. E talvez ambos estivessem certo. Não fora nenhuma grande decepção que a marcou, nenhuma desilusão. Seu maior problema era o esporte mais praticado nas relações humanas, a mentira. E todos ao redor praticavam, inclusive ela. Por hobby mesmo, em coisas sem necessidade. Já possuia idade para entender que a humanidade não sobreviveria a sinceridade, se destroçaria tão rapidamente e o caos reinaria. Ela até gostava dessa ideia, de assistir de camarote. Só esquecera ela, que a calamidade também a atingiria. Não era hipócrita nesse sentido.
Quanas mentiras não havia dito? Quatas histórias não modificou? Simplesmente por prazer. As vezes para proteger algo que não necessáriamente precisava ser protegido. Quantas vezes se viu envolta numa rede de mentiras? Se viu cercada e não sabia como responder sem ser com outra mentira. Quantas vezes a verdade não lhe ofereceu nenhuma recompensa?
Mas mentiras bobas e futeis não a preocupavam. O problema eram as mentiras causadas para esconder o caráter de alguem. O problema era a covardia da ilusão. Isso a amedrontava, fazia que desse passos curtos. Nem era conscientemente, apenas parecia ser o óbvio a ser feito. Diziam para ela que assim não se vive e ela dizia o mesmo para eles. Assim, entregando o coração de mão em mão, sem conhecer, também não é vida.
Não dava para suportar a idéia que fariam com ela o que ela faz com os outros. Que seria iludida como iludia os outros. Que se acham importantes quando ela apenas estava sendo simpática, que se acham ignorados só porque ela tava distraida. Não dá para viver pensando na consequência de seus atos para todos.
Mas não dá para experimentar um tipo específico de felicidade sem confiar uma vez que seja em calorosas palavras falsas.


Esse texto foi um oferecimento para você garota, porque eu nunca estive mais sem vontade de escrever e você ficou insistindo.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Dos filmes favoritos - os 8 que estou pensando agora.

Esse é um blog de texto. Em teoria eu tenho outro para escrever esse tipo de conteúdo, mas como isso não é simplesmente para eu lembrar, vai aqui. Ás vezes eu acho que eu preciso ter esse tipo de coisa, para caso eu me perca novamente.

Normalmente, eu tenho extrema dificuldade de citar meus filmes favoritos. E muitas vezes eu menti sobre isso, admito. Nunca falei que amava filmes que odeio, mas já citei filmes que eu simplesmente gostava como favoritos

American History X


Edward Norton é provavelmente meu ator favorito, já cheguei a essa conclusão a despeito do Johnny Depp. Mas de verdade, para mim ele é um gênio da atuação, quase. E a história de American History X é fantástica, sobre tudo o final.

"So I guess this is where I tell you what I learned - my conclusion, right? Well, my conclusion is: Hate is baggage. Life's too short to be pissed off all the time. It's just not worth it. Derek says it's always good to end a paper with a quote. He says someone else has already said it best. So if you can't top it, steal from them and go out strong. So I picked a guy I thought you'd like. 'We are not enemies, but friends. We must not be enemies. Though passion may have strained, it must not break our bonds of affection. The mystic chords of memory will swell when again touched, as surely they will be, by the better angels of our nature."

Eu juro que arrepio só com a citação.


The Lord of the rings



Não posso evitar. Eu amo muito o filme, tanto quanto eu amo o livro. É épico. Sim, é como um conto de fadas, tudo dá certo no final, blablabá, Game of Thrones é melhor. Foda-se. Tolkien tem todo o seu mérito e Peter Jackson foi um excelente diretor. Não que os atores não tenham ajudado, ficaram realmente como eu imaginei e eu estou ansiosa para ver como O Hobbit vai ficar. O vídeo é do Meddley mesmo da Lindsay Stirling porque eu gostei muito apesar de achar que ela dança demais no vídeo. Mas, o que vale é a música.
Ah, e esse é um ponto muito importante dos filmes, a trilha sonora estupenda.
São muitas cenas que eu gosto no decorrer dos três filmes, são muitos anos vendo e revendo e lendo e é realmente muita coisa. Até meus personagens favoritos mudaram no decorrer dos anos, mas no momento eu escolheria essa. Acho a atuação dele, Billy Boyd,  emocionante. Acho difícil até ver o vídeo até o final mas isso é porque eu sou trouxa.

São três filmes, merece 3 vídeos pelo menos. E esse é o melhor na categoria fantasia.




The Good, the Bad and the Ugly




Conheci o filme por causa de um comercial.Foi o primeiro filme que eu vi com o Clint Eastwood novo. Poderia até ter um fan girl aqui pelo fato dele estar extremamente sedutor no filme, mas não.  Eu realmente gosto do filme, da trilogia na verdade mas especialmente desse. Acho que é por causa da junção de Tuco, Blondie e Angel Eyes. Ou da trilha sonora. Bem, qualquer que seja o motivo, é o meu filme de faroeste favorito.


Mary and Max


Eu deveria ter um top só para animações. Mas, Mary and Max é surpreendente demais. A história é tão simples e triste. Na semana que eu vi o filme pela primeira vez, eu vi mais 4 vezes e queria apresentá-lo para todo mundo. Chorei e choro com ele . Alias, é muito legal se atentar ao fato de que Nova York é toda cinza e na Austrália tudo é marrom.
Unfortunately, in America, babies are not found in cola cans. I asked my mother when I was four, and she said they came from eggs laid by rabbis. If you aren't Jewish, they're laid by Catholic nuns. If you're an atheist, they're laid by dirty, lonely prostitutes. 


A Lista de Schindler




Destaque máximo aqui. Liam Neeson me conquistou em Les Miserablés, mas foi em A Lista de Schindler que eu vi todo o potencial dele. O tema já é um grande interesse meu, a história é ótima.
They cast a spell on you, you know, the Jews. When you work closely with them, like I do, you see this. They have this power. It's like a virus. Some of my men are infected with this virus. They should be pitied, not punished. They should receive treatment because this is as real as typhus. I see it all the time. It's a matter of money? Hmm? 
A visão apresentada, a filmografia, as atuações, Liam Neeson junto de Ralph Fiennes. A miséria. Excelente.

Today is history. Today will be remembered. Years from now the young will ask with wonder about this day. Today is history and you are part of it. Six hundred years ago when elsewhere they were footing the blame for the Black Death, Casimir the Great - so called - told the Jews they could come to Krakow. They came. They trundled their belongings into the city. They settled. They took hold. They prospered in business, science, education, the arts. With nothing they came and with nothing they flourished. For six centuries there has been a Jewish Krakow. By this evening those six centuries will be a rumor. They never happened. Today is history. 


Fight Club


Eu juro que não lembrava o quão popular esse filme era. Lembro que em 2000 quando eu falei que era um dos meus filmes favoritos, meus coleguinhas me olharam esquisito, mas com a idade, quase todos eles amam Fight Club. Alguns por motivos diferentes. Eu gosto desse filme por inteiro. De verdade. Gosto do jeito como as falas foram escritas. Não sei mesmo como nunca li o livro.
The first rule of Fight Club is: You do not talk about Fight Club. The second rule of Fight Club is: You do not talk about Fight Club. Third rule of Fight Club: someone yells stop, goes limp, taps out, the fight is over. Fourth rule: only two guys to a fight. Fifth rule: one fight at a time, fellas. Sixth rule: no shirts, no shoes. Seventh rule: fights will go on as long as they have to. And the eighth and final rule: if this is your first night at Fight Club, you have to fight. 
E é assim que as coisas começam.

When you have insomnia, you're never really asleep... and you're never really awake.

E o melhor de todos, a maior realidade:

You buy furniture. You tell yourself, this is the last sofa I will ever need in my life. Buy the sofa, then for a couple years you're satisfied that no matter what goes wrong, at least you've got your sofa issue handled. Then the right set of dishes. Then the perfect bed. The drapes. The rug. Then you're trapped in your lovely nest, and the things you used to own, now they own you.



The Wave 

Esse filme simplesmente foi um marco nos meus pensamentos. Há algumas coisas nele que eu nunca havia pensado. Ele me ajudou a me situar. A mostrar uma certa realidade. As coisas podem mudar de figura muito fácil. É um filme curto, vi no colégio e acho que se todos os professores o mostrassem, talvez as coisas fossem um pouco diferentes. Ou não.
“The Nazis might have been a minority, but they were a highly organized, armed, and dangerous minority. You have to remember that the rest of the German population was unorganized, unarmed, and frightened.” - do livro


A viagem de Chihiro



Não escondo de ninguém o quanto eu sou fã de Miyazaki. Cito Viagem de Chihiro aqui, mas provavelmente deveria colocar Howl's Moving Castle também. E o Serviço de entregas de Kiki e mais ainda O Castelo no Céu ( Tenkû no shiro Rapyuta). Aqui também se destaca a trilha sonora.



Tem clássicos faltando aqui. Matrix (e alguns contos de Animatrix), O Poderoso Chefão, Cidade de Deus, O Auto da Compadecida, Beleza Americana, Pulp Fiction, Seven, Minority Report (?), Clockwork orange ( que acho que não tá aqui só por preguiça. A despeito do livro ser melhor, aí está uma adaptação bem fiel), O sétimo selo, Meia-noite em Paris e tantos filmes do Woody Allen, Show de Truman, The Shining, Full Metal Jacket (é, eu gosto do Kubrick, No Country for Old Men, Forrent Gump (apesar de eu achar que não consigo ver o filme mais uma vez de tantas vezes que assisti), Alien- o 8 passageiro (eu ganhei um livro por ver esse filme), Amelie Poulain, Ladrões de Bicicleta, Túmulo dos Vagalumes, Labirinto do Fauno, O Ilusionista (Oi, Edward Norton?), Inception (acabou que eu comprei um daqueles peões), Os infiltrados, Requien for a dream (que deveria estar na lista acima só para eu colocar a música maravilhosa) ....

Eu vejo filmes demais. De verdade. Por isso comprei o 1001 filmes e tenho um HD enorme. Esses foram poucos que eu consegui citar rapidamente e olha que nem eu entendo porque foram justamente esses. Se alguem ler isso e quiser indicar algo, eu fico eternamente grata.

Morte

A vida tem me causado uma angústia frequente esses dias. Uma necessidade de julgar todos os meus atos e me sentir mal com eles. Eu costumo dizer que é culpa da nossa sociedade manipuladora. Dizem que é uma fase e eu vou invariavelmente parar de culpa-la, mas duvido. Parece um pensamento bem lógico.
Só que não creio que essa questão é culpa dela, não inteiramente. Eu que não sei lidar com isso. Com a pergunta básica que não vale a pena se importar, de verdade: E se eu morrer agora?
Sabe esses seus planejamentos, as coisas que você guardou para fazer amanhã, os amigos que você tem  o dom de desencontrar? Sabe aquela festa que você quer ir? Sabe aquela viagem que você quer fazer? Sabe aqueles sonhos que você tem? 
Eles pertencem ao futuro. 

E nem sempre o futuro existe.

Me pego a pensar com frequência cada vez maior, como vai ser o mundo que eu irei perder. Penso se o dinheiro me possibilitaria viver mais tempo. Penso se ao menos algo eu deixei para a posteridade. São tantas questões inúteis afinal, diante de uma imensidão do universo. Só que quando eu fecho os olhos são essas questões que me bombardeiam, afastando meu sono.
É bobeira, eu sei. Mas, Saramago  já dizia: "Escrevemos porque não queremos morrer. É esta a razão profunda do acto de escrever." E faço minhas suas palavras.
Sou uma dessas pessoas que conviveu com a morte de perto, perto demais. Durante a infância a encarei com uma naturalidade enorme, mesmo após a morte do meu avô, meu segundo pai, eu tinha certeza que seria melhor para ele do que continuar a sofrer. O pessoal do setor de Oncologia do hospital, meus tios-avôs, meu primo de 15 anos, hamster.... Tudo isso passou naturalmente num primeiro momento. Só que como boomerangue voltou e me atingiu na nuca. Hoje em dia há um certo pavor.
Olho a morte com reverência agora e julgo isso pouco saudável. Não há nada mais natural do que morrer. O problema que eu sofro é viver com medo da morte. Não no sentido de deixar de fazer algo por isso e sim de deixar de dormir sufocada pela angústia do fim próximo.
Quando deito no travesseiro e sinto o pavor chegar, normalmente eu tento com bastante afinco, me concentrar na minha própria respiração. Ou com alguma sorte em alguma música muito específica, porque são poucas que não me causam nenhum tipo de nervoso ou agitação nesses primeiros minutos de sono. Como as músicas temas dos filmes do Miyazaki, tem sido meu jeito de dormir e meu despertador ao mesmo tempo. Tão deprimente a vida as vezes. E novamente a noite passa sem que eu consiga dormir. 

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Buby

Sabe, esse é um texto verdadeiramente pessoal, o que é incomum.
Inspirado diretamente por Daniel Toyoshima, que me fez chorar com o post dele.

Na realidade só estava pensando que fizeram 6 anos que você se foi. Seis anos desde a época que eu chegava em casa e você estaria me esperando. Eu lembro de tanta coisa, você esteve sempre tão presente. Sempre a me esperar. Desculpa se não te dei tanta atenção, desculpa se coloquei um filhote na sua vida (apesar de eu achar que no fundo você gostou), desculpa por naquele dia ter te dado banho na sua casinha, era seu lugar seguro.
Obrigado pelos 13 anos que passamos juntos. Obrigado por sorrir toda manhã para mim. Obrigada por todas as lambidas que você me deu. Obrigado por ter acompanhado tantas vezes meu choro e outras tantas ter me ouvido cantar. No final você foi testemunha de tudo. De tudo que aconteceu naquela casa. É triste chegar lá e você não estar. Mas, agora eu também não estou mais lá todo dia, não?
Você não era meu melhor amigo, você estava mais para um pai. Estava sempre lá comigo quando ninguém mais estava. Era quem me ouvia, quando ninguém mais existia. Nas madrugadas, correndo até o mirante, observando a vista...
Foi... difícil demais ver você ir. A gente tentou, sabe. Eu tentava te dar os remédios, tentava fazer você lutar... E naquele dia você estava tão fraquinho. Parece até coincidência e talvez o fosse. Você esperou eu chegar em casa, me lambeu e eu te fiz carinho, tentei te dar seu remédio e impedi que o Akira pulasse em você. Eu sempre tive medo que você se fosse do nada, sabia? Eu sempre ficava a olhar pela janela durante a noite para checar se você estava respirando, que nem eu fazia com meus pais. Naquela noite, logo antes de jantar, eu não tive dúvidas. O que se abateu sobre mim foi extremo pavor. Eu fiquei da janela olhando e esperando... Olhando o Akira do seu lado, preocupado. Quando minha mãe veio me perguntar o que houve eu lembro que apenas falei que eu não conseguia ir lá.
E eu lembro de quando minha mãe foi e confirmou meus temores. Eu lembro, Deus, eu lembro de que minha mãe que sempre disse não gostar muito do "punkão" estava chorando também. Eu lembro como eu que quis avisar meu pai no telefone, apesar de tudo era o cachorro dele.
Poucas vezes vi meu pai chorar tanto. Ele abraçava e abraçava o corpo dele. E poucas vezes na minha vida me senti tão inútil. Poucas vezes palavras de reconforto de pessoas que eu amava, foram tão inúteis.
E ninguém de fora era capaz de entender. O que era perder seu "pai". Perder alguém que te acompanhava desde os seus 2 anos de idade. Alguém com quem você conversava e partilhava segredos.
Lembro de como me irritei com os comentários alheios no dia, comentários tão estúpidos.
No dia seguinte, eu lembro de duas coisas apenas. Primeiro da Luana. Eu havia contado para ela quando ela me ligou a noite e falei que não queria conversar. Ela levou para mim flores e um cartão que até hoje eu tenho guardado e me abraçou tão forte... E era o que eu tanto precisava. Foi a única vez que algum amigo me viu chorar, pelo que eu me lembre.
Lembro, com uma dor no peito enorme, do Akira. Dele gemendo para entrar em casa e procurando desesperadamente pelo Buby. Procurando na cozinha, no sotão, nos quartos... Incapaz de entender. E lembro dele chorando a noite. O Akira sim, é meu melhor amigo. Não passo metade do tempo que passei com o Buby com ele. A época é outra, minhas obrigações e preocupações ultrapassam as da fase infantil. Mas, o Akira é meu cachorro Com todo o jeito fofo e pulinhos. Ele pode estar "velho" agora, mas ele nunca vai apresentar a sabedoria que o Buby desde cedo demostrou.
Punkão, Chapolin Colorado, Bidu e todos os nomes idiotas que te chamamos no decorrer dos seus 13 anos.
Obrigada.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

A história do jovem nômade


Há tempos distantes, quando os países eram reinos e metade do mapa que conhecemos se encontrava no escuro, havia um jovem que transitava entre os reinos. Não era algo muito comum da época, sobretudo sozinho. Contudo, o jovem não parecia abalado.
Ia cantarolando pelo caminho, usando suas roupas surradas. Deixava sua muda boa para quando estivesse mais perto dos castelos, mas não se preocupava. Apenas andava... Trocava conhecimento constantemente com os moradores de cada local e desde então sempre aprendia algo. E continuava sua jornada.
Um dia, o jovem se deparou com uma menina, não mais do que dez anos, sentada numa ponte ricamente ordenada. Deixemos claro nesse ponto, que a menina era muito rica e não a ponte. Ela o encarou firmemente, contudo sem o julgar pelas suas vestimentas e perguntou:
"Que trazes dos outros reinos, viajante?"
"Ora milady, trago um pouco de tudo. Mas a maior parte das coisas trago aqui", responde gentilmente o jovem apontando para a cabeça.
"Poderias compartilhar um pouco de sua sabedoria?"
O jovem faz um aceno afirmativo com a cabeça para logo ser bombardeado com inúmeras questões.
"Calma, calma. Uma de cada vez, mas se me permite deixe-me sentar primeiro", ele diz enquanto se acomoda.
"Como você sobrevive?"
"Bem, com a gentileza dos outros, com frutas, com a água dos rios, troco conhecimento e conversas por comida e cama quente."
"Só isso? Não desmerecendo o conhecimento, mas... Não sabia que tantas pessoas o desejavam."
"Está certa. Não são tantas. Para minha sorte eu possuo um velho violino e uma boa voz."- ele responde com um meio sorriso e seus olhos castanhos logo se tornam mais brilhantes - "Só toco quando tenho uma boa platéia. Ou nenhuma platéia. Você é uma boa plateia?"
"Creio que sim. Só que não poderei lhe dar nada."
"Ora, e nada lhe pedi."
E dizendo isso ele tira seus pertences das costas, uma caixa surrada protege o violino e a despeito de toda a pobreza aparente, ele pega um belo violino e começa a afina-lo. A madeira escura parecia recém envernizada e as cordas não aparentavam desgaste.
"Não entendo como podes ter um violino tão belo."
"Ah, conhecimento consegue as coisas. Com meu conhecimento dos lugares que passei posso ajudar as pessoas e elas pagam por ajuda."
"Interessante... Não há lugar que não precise de ajuda, não?"
"Já andei muito e nunca encontrei um só vilarejo que não precise de ajuda. Digo até que nunca achei uma família que não precisasse de algo."
"Eu não preciso de nada".
"Não, não precisa"- responde ele com um sorriso - "Mas, há muitas coisas que deseja, como por exemplo, respostas para suas perguntas. Agora, o que quer que eu toque?"
A menina tenta recordar de todas as músicas que já ouviu. Que música desejaria nesse momento... Ela alisa seu vestido vermelho e tenta avidamente lembrar. Tenta e tanta, coloca tanto esforço nisso, mas nada. Nenhuma canção surge. Ah, apenas aquela velha música que ronda sua mente a tanto tempo. Será que entre as tantas coisas que o jovem conhecia, ele conheceria a canção que sua mãe cantava?
"Há uma música sim que eu gostaria. Eu não sei o nome e não posso perguntar. Meu pai não gosta que eu mencione minha mãe, ele fica triste... Mas, é assim..."
E com a voz trêmula ela começa a entoar um trecho. Era um som tão belo, simples e entretanto tão reconfortante, claramente uma canção de ninar. Por sorte, já conhecida do jovem músico. Com um sorriso, ele a interrompe.
"Deixa-me tentar atender teu desejo, jovem dama"
E ele sobe o arco para então descê-lo. Com uma desenvoltura inesperada para alguém tão maltrapilho. O som começa a fluir apaixonadamente, com uma força, tão vibrante. E tão perfeito. O coração da menina começa a bater rapidamente, ela sentiu como se ela simplesmente fechasse os olhos sua mãe estaria ali com ela novamente, a bailar. E ela se atreve a fechar os olhos.
Sua antiga casa, seu quarto de infante, seu mundo sem preocupações. Seu mundo quando sua mãe estava lá a olhar por ela. Empregados não substituiriam isso, ama nenhuma substituiria aquele calor e ela podia sentir aqueles olhos esverdeados a olhar para ela, como se fosse um sonho. A música chega ao seu clímax e logo acaba. Ela abre os olhos devagar e descobre sua visão embaçada. Havia estado chorando sem nem o notar. E quando olha ao redor, uma pequena aglomeração havia se formado.  Não houve aplausos, contudo era possível ouvir soluços. E havia dinheiro jogado na caixa do violino. "Então é esse seu poder", ela pensou. Quando finalmente o encara, elaborando mentalmente um agradecimento, ela se espanta. O jovem que lhe parecera tão simples, apenas uma figura caricata que ela parara para passar o tempo, parecia emanar beleza. Os cabelos castanhos reluziam, os olhos claros se destacavam mesmo através da franja comprida que outrora parecia deslocada, agora se mostrava perfeitamente posicionada e o sorriso em seus lábios, aquele meio sorriso, enquanto ele abaixava o arco, para então sim olhar surpreso para a platéia que ganhara.
Ele agradeceu a todos, ouviu o que cada um tinha a dizer, tocou mais um pouco, recebeu comida de alguns, moedas de quem nem tinha o que comer, repartiu o que ganhou com quem mais precisava e quando finalmente todos foram embora lá pelo entardecer, ele voltou sua atenção para aquela que o estava esperando.
"Acertei a canção?"
Ela responde apenas com um leve balançar de cabeça. Não tem palavras para agradecer. Nem sabe como se dirigir a alguém tão belo, tão talentoso, tão...
"Estou indo."
"Já?"
"Ora, já dei minha contribuição para essa cidade."
"Mas - Subitamente um desespero se apodera dela, a idéia de nunca mais ouvir sua música, de nunca mais vê-lo. - Olha quanto conseguiste fazer em um dia, imagina em vários!"
"Enquanto for um show de um dia, sempre haverá interesse."
"Mas...Aqui será diferente. Sempre haverá alguém querendo ver seu show!"
Ela treme quando ele a acaricia no rosto. Seu toque parecia dar choque.
"Isso não é verdade. Você sabe disso. Porque você é diferente, como eu. Só que você tem suas raízes. Eu nunca fiquei parado tempo o suficiente para cria-las. Me vou."
Ela tenta ficar em silêncio, enquanto ele guarda seu instrumento e se prepara para sair, o aperto no coração é forte. Queria tanto uma promessa, um local para encontro. Não era criança, sabia que essas coisas não funcionam, nunca funcionavam.
Lendo o medo, as dúvidas nos olhos dela, ele responde a pergunta não dita.
"Não sei para onde eu vou, não sei onde vou estar amanhã, essa é a verdade. Mas... Se um dia, quando você tiver idade, quiser seguir o mesmo caminho... Tenho certeza que me encontrará. Perguntará nas cidades, por um violinista errante e alguma hora chegarás até mim. Tenho que adverti-lhe, não é uma vida tão divertida, mas é a vida que me serve. Também tenho que dizer que serei um homem velho e você uma bela donzela, provavelmente não serei boa companhia. Mas, ficarei feliz de dividir meus conhecimentos com alguém. Agora vá, volte a sua vida."- ele discursa enquanto bagunça o cabelo dela.
E assim se passa o encontro dos dois. Ela o observando enquanto ele acaba de atravessar a ponte e se dirigindo a saída da cidade.
Se ela deixa sua vida para ir atrás dele, se a história deles se resume a essas breves linhas, se ela se casa com o filho de um próspero comerciante, se ela morre  nos próximos segundos, não importa. Importa que um dia houve um jovem rapaz capaz de criar laços e seguir em frente sem se fixar, capaz de andar seguindo o rumo dos pássaros errantes, que levava uma muda de roupa boa numa sacola e um violino a tiracolo. Que tocava para os deuses ouvirem e que sabia todas as canções do mundo e ainda buscava por mais e que nunca estava satisfeito com o que conhecia. Que passava as noites frias a tocar para que seu corpo não enrijecesse, que raramente tinha abrigo e o que comer nos dias seguintes, contudo era feliz. Que a despeito de muitos o considerarem louco, possuía um jeito tão cativante, que era sempre bem recebido onde quer que fosse. E que o mundo todo ouviu falar nele e nas suas andanças. Que suas histórias continuam a correr por aí. Que muitos o invejavam, mas poucos eram intrépidos o suficiente para fazerem o mesmo. Que houve um jovem rapaz que queria plantar idéias e por isso abriu mão de plantar a si mesmo em qualquer lugar. Que um jovem rapaz um dia desistiu de ser considerado alguém digno pela maioria para se tornar ninguém e acabou virando lenda.




E isso demorou tanto tempo para conseguir ser escrito que é no mínimo envergonhante. Mas, está aí, minha primeira e provavelmente única tentativa de uma fábula.

sábado, 21 de abril de 2012

Pensamentos sobre a vida

Quando a sensação de inutilidade volta, eu tento espanta-la. Sinto claramente enquanto eu respiro, ela adentrando no meu corpo. Se recolhendo aos recônditos da alma e ali ficando. Se minha mente vagar é para lá que ela retorna.
Vida. Tendo a pensar que de fato não há nada a ser feito, nada importante, que não se pode fazer nenhuma diferença e que não há motivo para pensar nisso. Minha mente não deixa. Não deixa eu me enganar, eu não acredito e nem acreditarei nisso.
Sou incapaz.
E a plena consciência de como o tempo vai passar, como tudo é tão dolorosamente inútil, como eu vou colocar crianças nesse mundo, como eu vou trabalhar, como eu vou morrer, como eu posso ou não estar sozinha, como toda a existência é tão curta... Dói. Acima de tudo. Dor. Uma angustia tão profunda que só é possível ignora-la ignorando o próprio ato de viver.
Jogar? Para que? Que tamanha perda de tempo e sem propósito. Escrever? Para que? Não faz sentido. A internet em si é toda...Uma tamanha falta de propósito. E o que fazer? O que fazer para melhorar algo? A falta de resposta machuca. Sinto o eco das minhas palavras como eu as houvesse gritado e elas refletem. E eu coloco tudo para dentro novamente.
Aprender para que? Escrever para que? Houve uma época que eu achava que se eu escrevesse eu podia ajudar alguém que pensasse como eu. Que auto-ajuda. Que... Ridículo. Houve uma época que ser uma excelente escritora me satisfaria. Na verdade, ser uma excelente escritora ainda me satisfaria. Não há nada mais eterno que palavras, que idéias e nem elas são eternas. O mundo todo é tão mutável e vazio.
E eu saio. Para me enganar. Para não ficar presa nessa urgência. Onde nem aprender algo novo é satisfatório. Onde as coisas não fazem sentido.
Eu saio. Saio para sentir o vento, sentir o calor tocando meu corpo, sentir a chuva. Porque livro nenhum, nada, pode me fazer sentir isso. São as experiencias que somente nós podemos ter por nós mesmos. E quem sabe o sentido da vida não seja sentir o máximo de experiências possíveis... Visitar o máximo de lugares possíveis, viver a maior quantidade de experiências? E é por isso que eu não me conformo em ficar sentada diante de um computador. É por isso que eu não posso me conformar com um trabalho regular.
E quando o cheiro da chuva chega, eu sinto que ele me chama. Que ele pede que eu vá com ele. E se alguém perguntar para onde eu estou indo, terei prazer em responder que estou apenas seguindo a chuva.

A vida é muito curta para perder tempo não gostando de si mesmo.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

A bailar

Ele observava os sapatos sujos. Tentara em vão esconder as marcas de uso, transformar seu traje em algo minimamente decente para enfrentar os olhares. Claro que sabia que os outros o iam olhar mal, mas seu carisma resolveria isso. O que ele não conseguia pensar em suportar era a reação dos dois. Dos seus ditos amigos.
Não conseguia imaginar como seria olhar naqueles olhos, naquela condescendência muda que só os realmente bons tem e que lhe faltava. E era isso mais do que tudo que desejava esconder de todos, especialmente dos dois. Queria ter trajes magníficos ou que pelo menos pudessem passar o mais desapercebido possível diante dos outros, apesar de não totalmente devido aos ouvidos habitualmente mexeriqueiros. Queria ser invisível, mas não o era, esse dom não lhe foi concedido. Nem esse e nem tantos outros.
Na realidade, tinha dificuldade em encontrar qualquer coisa que pudesse destacar em si mesmo. Só que já estava acostumado com isso. Ajeitou a casaca, encobriu a blusa encardida e se levantou. Já chegava de auto piedade. Sabia que os encontraria a plena imagem da perfeição, sabia que eles o arrastariam para a luz. Sabia que seria obrigado a enfrentar o mundo, porque eles achavam que assim seria melhor. O mundo, o mundo ostentado tem tanta nojeira na opinião dele. Ele preferiria ficar no seu canto, escondido. Longe das pessoas, perto dos lugares. Só que isso não era uma discussão. Eles o arrastariam.
Então era melhor que já aparecesse no salão por vontade própria, não como um ser arrastado. E sabia que quando eles começassem a circular pelas mesas, ele se sentiria na obrigação de fazer o mesmo. De tentar. Nunca seria tão gracioso, sedutor e bom quanto eles. Mas, também ninguém nunca o odiaria. Nem o amaria. Não era de todo ruim, se ele não visse como aquele amor funcionava. Como as pessoas se dispunham para ele, céus, como queria experimentar aquilo tudo... Contudo, não era aquele seu lugar. Só estava ali por causa deles, no fundo sabia disso. No fundo sabia que esses desejos não eram tão verdadeiros assim. Só era uma outra fonte de mentira, só que dessa vez uma que parecesse verdade aos demais.
Cumprimentou algumas pessoas, claro que eles o olharam de cima a baixo. O conde especialmente cuidou de observar as dobras das calças de uma maneira quase ofensiva, só que nem ele pode evitar um sorriso diante das palavras doces do jovem. Seu jeito brincalhão, inocente e sorridente, soando ligeiramente responsável e preocupado diante do mundo, um jeito questionador, induzindo as idéias... Conquistador. Não memorável, conforme já foi dito. Apenas conquistador. Como uma dama que se toma por uma noite só.
E eles entram no salão sem anúncio. Não é preciso. A própria imagem da perfeição. Conquistadores tão grandes que nada os pode deter. Flutuam pelo salão, cumprimentando com acenos os rostos ora perplexos, ora desdenhosos, estão juntos para qualquer um com olhos, a despeito de um duque idoso com cataratas em estado avançado parece concordar com a afirmação. Ai, amor. Como eles disseram que sentiriam falta do jovem maltrapilho, como eles disseram o quanto ele era importante...Como eles se enganam. Seria deselegante dizer isso, na verdade eles sentiam. Ia ser interessante ter um vassalo sempre por perto, mas o jovem sabia que nunca se igualaria a eles e preferiu manter-se afastado a despeito de tudo que sentia. Era melhor, ele nunca seria digno. E  as roupas combinando deles em contraste com o trapo que vestia lhe gritava isso. E era apenas uma lembrança de seu desalinho.
Todavia, eles o cumprimentam com um igual. Ela deixa escapar um pequeno grito e se joga em seus braços. Ele para por um momento, para absorver aquele cheiro que tanto o maravilhava, aquele carinho que ele tanto ansiava, só que ela o solta. O momento passa. E é a vez dele cumprimentá-lo. Um sorriso amável, um abraço apertado. Ele sabe que aqueles dois gostavam dele mais do que dos demais. Sabe que é levemente especial. Amargurosamente, não o bastante. Não é essencial. Não é necessário. Prefere estar sozinho do que a dor de ser inútil. A dor de ser apenas... Apenas ele mesmo. E isso nunca foi o suficiente.
Ela o convida para uma dança enquanto ele se distrai com uma conversa enfadonha. E eles dançam em um ritmo lento, convidativo. E ele se sente em casa a levando. Fecha os olhos e deixa-se levar. Deixa se distrair por míseros segundos desfrutando da atenção que recebia.
Quando os entreabre, observa surpreso que o olhar dela não se mantivera nele. Ela não vira a expressão de calma em seu rosto, ela não vira sua felicidade, estava preocupada demais em observar o outro. Uma conversa começa a surgir, levemente irritada, ele nunca havia se permitido parecer tão frágil perante alguém e ver que ninguém ligou para sua fragilidade... Uma máscara começa a subir. Agora ela mescla seus olhares, tentando prestar atenção aos dois ao mesmo tempo e quando a conversa é interrompida e o verdadeiro par dela assume, ela sim relaxa. A expressão de paz no rosto dela é completa e ela não desvia o olhar de seu acompanhante.
Enquanto ele é deixado. Para ainda fazer comentários como: Mas, que belo casal, não acham? E conquistar os locais, torcendo que da próxima vez sua presença seja mais desapercebida. Mesmo com suas vestes surradas, seu jeito sem graça e sua falta de qualidades. Ele podia nunca mais aceitar um convite. Era óbvio que aceitaria. Como ansiava por conquistá-los. Sabia que nunca conseguiria, mas se vontade fosse o suficiente... Pensou em esperar, para passar um tempo com ele também, mas ele só prestaria alguma atenção se estivesse sozinho. O que não aconteceria hoje. Tinha obrigações de conquistas. E assim foi-se embora. Se perdendo na escuridão, com a certeza de que talvez até comentassem, perguntassem onde ele se encontrava, mas ninguém o procuraria. Ninguém ligaria. E com a paz de espírito de não estar atrapalhando a vida de ninguém, pode seguir com a sua... Até o próximo convite. Por hora, estava sozinho. Como deveria sempre estar.


Todas as falhas de pensamento de primeira para terceira pessoa foram propositais, embora nem sempre aparentam ser assim.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Geração


18/04/1991.
Engraçado como sempre me pareceu que 18 era múltiplo de 4, sem nunca o ser.
É impressionante o efeito que uma data determina sobre ti. Há aqueles que acreditam em signos, que todas as pessoas nascidas naquele período ter quando é o aniversário delas. "Ah, você é de libra. Primeiro decanato? Creio que você é um forte candidato a parceiro de vida".
Por Deus, não. Mas, minha data de nascimento decerto infere algumas coisas.
Não o dia. Não o mês. Mas, o ano. Me diz que nasci no início da década de 90 do século XX, a última data do século XX, diz que presenciei a revolução da internet, que vi cds sm algo  que as une. É uma idéia reconfortante. Pensar que para você achar pessoas que combinem com você, só é preciso perguntaurgirem e se tornarem obsoletos, vi internet discada, a cabo e a rádio (entre outras, acho). Vi shoppings abrirem, vi uma nova era músical (não muito boa). Vivi uma nova moeda, vi o euro nascer e provavelmente o verei morrer, assisti Pokémon, joguei consoles de fita, de cd, de cartão, de SD Card e de HD por assim dizer. Joguei jogos de 8 bits e jogos em HD. Vi os DVDs se popularizarem, os filmes em 3D crescerem, os bluray serem lançados. Ouvi discos de vinil (isso não vem pela data que eu nasci, mas tudo bem), ouvi K7, cds, mp3 e agora ouço música no computador. Ouvi notícias no rádio, na tv, no jornal, na internet e logo no ônibus e no metrô.
Costumava pensar no mundo como algo mais estático. Que gostaria de ter nascido numa era mais revolucionária, quanto na verdade tudo está mudando tão rápido.
Temos uma geração nostalgica. Melancólica. Apenas parte dela é assim, é verdade. mas, essa parte me agrada tanto... E claro que essas palavras todas existem apenas para eu me reconfortar ao pensar que a minha geração nem é tão ruim. Ainda nem se sabe como seremos no poder. Só que isso tudo é um esteriótipo, uma generalização. E bem... Toda generalização é burra.

Fragmentos

Foi preciso alguns meses antes de voltar a ter um blog. Alguns meses de orgulho ferido e eu não digo que eles acabaram completamente. É difícil superar quando roubam o seu lugar. Alias, dois lugares especiais demais. E é difícil realmente superar isso. Soa idiota, mas essa foi a primeira vez que perdi textos. Não, claro que eu perdi textos antes. Chego a dizer centenas de textos. Mas, poucos que eu me orgulhasse. O que é totalmente diferente do blog oculto, ali só tinha textos que eu me orgulhava, praticamente. Textos que eu considerava emocionantes e tão parte da minha essência... E todo o visual de Quebrantos? Quanto trabalho aquele layout me deu e todos os detalhes...  Tudo feito com esmero. E agora estou aqui, em um novo local, que por enquanto não tem nada, contudo espero preencher do meu jeito. E salvar uma cópia em uns 5 pendrivers diferentes para não perder. E agora estou aqui, tentando juntar os fragmentos de coisas antigas.