quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Bêbada

Minha cabeça zomba
Tudo é confuso
A única constante é você
se eu queria te mandar áudio nesse estado?
Queria.
Não irei fazer.
Você também não o faria.
Recuplrocidadade é tudo
E nessa batalha ninguém vence
Eu certamente não te amo
Mas certamente não sou indiferente
Enquanto meu estômago se reviravolta
Eu só penso em te beijar
Sentir todo o calor junto a mim
com ele me casar
Possível não é
Nem para mim e acredito para ti
Não sei se você se interessa
mais do que em mim
Você sabe ou eu espero, entende a sombra que se instala
entre quem você é e mostra
não por causa de reservas e excuses qualquer
é autlpreservação nua e crua
sim, te quero
não, não vou correr atrás de você

sábado, 5 de novembro de 2016

Presa

Texto de agosto 2010

   Ela gira em meus braços, embevecida. Meu cheiro é o seu néctar. A seguro, forte,confiante. Ela é minha, minha presa do dia. Algo não mais do que por uma noite para mim, mas uma lembrança fixa na mente dela. Gosto da idéia de marca-la. Se pudesse a marcaria fisicamente e definitivamente mas ela provavelmente não vai gostar.

    A observo fixamente. Bela, princesa. Nunca chegará a rainha.. Mesmo assim me delicia
com seu corpo colado ao meu. Beijo-a toda, em especial ao seu pescoço. Aplaco seus
medos, guiando-a. Coloco suas delicadas mãos em meu corpo. Tão delicado quanto o dela e ao mesmo tempo tão menos virginal. Nossas roupas finas de dormir tão logo deixadas de lado. No chão, embaranhadas, elas parecem estar no lugar certo.
 
   Amo-a. Neste momento. Pois mesmo em sua meninice se entrega ao novo, relaxada em meu abraço. Me sinto mãe, me sinto dona dessa pequena. Exploro seu corpo nu com cuidado.
 
   Primeiramente com as mãos, depois deixo a minha lingua continuar. Seu gosto tão doce e
ainda assim não enjoativo. Beijo seus pés. Não quero ver sombra de medo em seus olhos
tão límpidos.
 
   Brinco com seus seios fazendo-os desabrochar. Um carinho suave até que ouça sua voz sussurrar: Lamba-os, por favor... Claro querida. Seu desejo, meu desejo.Ela pede para
brincar com meu corpo. Deixo, é claro. Guio sua mão novamente, mas logo ela não
precisa mais de minha ajuda. Minha putinha nata, uma excelente descoberta.

   Não quero esperar mais, junto meu corpo ao dela. Nossos seios duros, um contra o
outro. Uma sensação de prazer se espalha por mim,ela se encontra toda arrepiada.

   Beijo-a enquanto desço minha mão pronta a explorar sua intimidade. Calmamente descubro o que lhe dá mais prazer, para depois me atentar a isto. Sei que não posso me manter apenas em seus pontos climax, sei como lhe torturar e aí sim lhe dar mais prazer. 

   Ouso, levo minha boca até aquele antro de prazer tão neglicenciado por ela. A excito,
quero fazê-la gozar em minha boca. E com um gemido segurado e um grande arranhão em
minhas costas descubro que alcancei meu objetivo.

   A penetro com meu dedo neste momento, sem esperar permissão. Sinto sua virgindade
latente, sei que ela é minha. A tomo com uma pressa que não me é devida. Rapidamente
ela me penetra da mesma maneira e quando estamos as duas tão perto do gozo, roço nela. 

   Uma intimidade só conhecida entre mulheres, meu ponto mais sensível com o seu. Juntas nos excitamos para um orgasmo final, maior e mais longo...Agora só resta a mim desabar sobre seu corpo, cansada, enquanto observo sua face serena,totalmente livre de
preocupações.

O oitavo dia de neve

Texto de fevereiro de 2011

   
Mais um dos nossos feneceu essa manhã. Não havia nada que pudessemos fazer além de nossas preces. E tenho a impressão que elas também não são de grande serventia. Sabíamos de sua morte, mesmo assim o coração parece pesado e os ânimos abalados. Qualquer soldado é uma vida, uma pessoa. Por mais que não fosse um amigo íntimo você sente. É uma derrota.
   Ele me chamou atenção, admito. Já há uns dez dias aguenta sua ferida sem reclamar. Apenas agradeceu por ter tido a graça de fazer parte desse regimento. Sua ferida não era tão profunda. Mas, o adversário fora ardil.    
   Contaminara a própria espada. Infeccionado o ferimento não consegue cicatrizar.Isso por si só já seria um problema difícil de contornar nas condiççoes de campanha. Somando-se ao inverno rigoroso, sabiamos que a chance de que ele e todos os outros feridos se recuperassem bem era mínima.
   Não os abandonaremos. Raramento o fazemos. Vivos aind apodem ser úteis e mortos, são nossos mortos e devemos encaminhar suas almas aos céus.
   Aqueles que perecem em batalha, não podem receber honras. E nem por isso suas almas se perdem. Não vejo tanto sentido em cerimônias gloriosas para aqueles que já não estão entre nós... Contudo, sigo as ordens de meu capitão... Enterro ou cremo os corpos e dou a eles uma última benção. Mesmo tendo certeza que o tempo que perdemos revirando corpos após um dia sanguinário poderia ser usado para restabelecer as forças dos que voltarão a lutar.
   Dessa vez não reclamo. Já faz oito dias que estamos sobre o abrigo dessas cavernas. Há oito dias nao para de nevar. Há oito dias nosso trabalho se resume a impedir que a neve adentre nosso esconderijo e nos sepulte aqui dentro. Tudo o que devemos fazer é criar calor, cuidar dos nossos doentes, manter a saúde e sobreviver. Há oito dias não vemos uma batalha.
   A ração é escassa, mas nos aguentara por pelo menos mais sete dias. Se todos sobrevivermos... Não acho que isso acontecera. Presumo que poderemos sobreviver por dez, onze dias. Mas, não tenho necessidade nenhuma de provar que meus cálculos estão corretos. Prefiro sair daqui antes se possível.
Observei o ferido que até agora não reclamara. Ele tem sido minha melhor distração por aqui. Esperava ouvir em seus momentos finais uma queixa, um pedido, um desejo de vingança... Qaundo o fedor pútrido começou a sair da ferida aberta, me ofereci para cuidar dele.
   Não por pena ou misericórdia, antes o fosse. Simplesmente queria ter certeza que não perderia sua súplica. Todos somos iguais ao morrer. Todos fedemos. Não que isso não aconteça com a maioria ainda em vida.
Durante dois dias acompanhei sua resistência. Sabia que não era daqueles que estavam conosco por obrigação. Ele queria lutar, Queria continuar a servir ao capitão. Mas, não reclamou.
   Alias, em pouco mais de quarenta e oito horas a única coisa que disse é que eu deveria arranjar uma maneira de ser mais útil ao regimento do que cuidar dos já condenados. Falou isso sem raiva ou rancor. Realmente queria o melhor para nós como um todo.
   Talvez se fosse em outro alistamento a história não fosse assim. A verdade é que é um orgulho poder vestir o uniforme negro com a pequena estampa de dragão rubro. Caleb era um excelente capitão. Sabia o nome de cada um dos membros de suas tropas e notava problemas individuais que os melhores amigos ignorariam. Não havia contendas nesse batalhão.
   Apesar de seu jeito tolo e companheiro, qualquer um que já o houvesse visto em uma batalha sabia o quão sanguinário ele era.  Seu prazer em guerrar era enorme e nós já eramos conhecidos como o braço direito do rei.  Em pouco tempo esperavamos que alguns de nós fossemos escolhidos para integrar sua guarda pessoal e guerreavamos para atingir esse posto.
   Não sei se o soldado a minha frente desejava essa honraria. Não sei se ele tinha essa ambição. Sei que estava morrendo como tantos outros. A guerra é injusta. Sempre foi. Matamos e estamos dispostos a morrer por um ideal, contudo não podemos e nem conseguimos esquecer que nos dois lados há homens bons.
   Não vivemos um conto. Nossos inimigos não são monstros e sim cidadões comuns. Somente aqueles bitolados são capazes de ver humanos comuns com espadas nas mãos como animais. E com esses eu prefiro evitar travar um combate...
   Ele arqueia de dor. Deveriam dar algo que minimize a sensação da morte. Que o faça esquecer essa dor. Nem que seja uma coronhada na cabeça, que pelo menos é uma dor aguda seguida de silêncio eterno... Fiquei ao seu lado a madrugada inteira, o observando. Tentando em algumas horas compreender anos e dor e angústia...
   Não consegui. E ele se foi enquanto eu cochilava... Foi sem eu saber o porque dele não reclamar. Foi me deixando uma dúvida eterna. Ele poderia ter sanado. Poderia ter me ensinado a não reclamar na morte como ele e ter o mais perto possível de uma morte honrada. Entretanto, ele preferiu ser um egoísta e guardar sua calma para ele...
    É o nono dia nas cavernas. E continua a nevar.

Ensaio sobre a cegueira

Texto de fevereiro 2010

Meu ritmo de leitura de férias anda fraco este ano, apesar de poder dizer que os únicos dois livros que eu acabei de ler até agora foram certamente livros úteis. Memórias de minhas putas tristes e Ensaio sobre a cegueira. Mas, este último merece mais destaque. É difícil demais dar uma opinião não spoiler sobre o livro então aviso desde já que o texto abaixo contêm revelações sobre o enredo. Mas, antes quero resumir um pouco do que se trata a história. Um resumo grande que obviamente contêm spoilers, mas tanto spoiler quanto a contra-capa ou o resumo do filme contêm. Recomendo para quem pretende ler o livro que não leia nem o resumo, porque sinceramente eu li sem saber do que se trata e foi muito surpreendente.

Ensaio sobre a cegueira trata do grande mal branco. Uma onda de cegueira que faz com que a vista das pessoas seja encoberta por um "pano" branco. O que surge como uma doença misteriosa que se apresenta repentinamente enquanto um homem está dirigindo se espalha pelas pessoas que tiveram contato com ele e por aí se espalha. E logo estas pessoas são levadas para um antigo manicômio a fim de serem postas em quarentena pelo governo e coordenados pelo exército. Sendo que o medo da contaminação é grande o suficiente de forma que eles não receberão nenhuma ajuda, pouca comida, algum material de limpeza inicialmente, nenhum medicamento, ninguém com olhos para os guiar... Nenhuma ajuda exterior. Mesmo que alguém morra, eles, os novos cegos, deverão enterrá-lo, queimar o próprio lixo... Sem visão e confinados a um local que não conhecem a vida dos primeiros cegos é complicada, mas quando o mal branco se torna um problema global, a loucura parece prestes a se espalhar. E entre os contaminados há um médico oftamologista e com ele, sua esposa. A única pessoa que permanece com a visão dentro do manicômio, como se fosse imune a cegueira que se espalha.

Opinião Spoiler do livro

De meus anos de estudante de humanas aos meus anos de aspirante a jornalista, aprendi inúmeras técnicas de resenha. Aprendi também que prefiro evitar usá-las. Ensaio sobre a cegueira é um livro denso que me pegou de surpresa. A simples curiosidade perante o título e a fama de José Saramago impulsionaram minha leitura em seus primórdios. Todavia, um livro contêm uma história e este eu resolvi encarar sem conhecimento prévio. E de início foi bem interessante, o primeiro cego, do nada, todo o terror do mal branco e logo o aprisionamento e o golpe de mestre da mulher do médico. É fato de que ela narra toda a história e é o eu-lírico que reproduz o que ocorre no "manicômio". A sujeira, os dejetos, toda a porquidão... Não é um conto de fadas, é como de fato a sociedade se comportaria em situações destas. A contaminação crescente, de início nos acostumamos a primeira camarata e aos seus seis personagens de destaque. Todos com seus erros, aflições, pecados, vergonhas ... o medo dos soldados e depois o óbvio surgimento de uma camarata que tenta sobrepujar as outras. Claro que em minha opinião boa parte dos sofrimentos causados pela terceira camarata do lado direito poderiam vir a ser evitados se a mulher do médico tivesse tomado uma decisão antes, mas provavelmente ela não teria como imaginar a situação que os mesmos iriam criar e a presença de uma arma de fogo realmente é capaz de silenciar até aqueles que não a vêem. Da simples entrega dos pertencentes de valor até a óbvia humilhação das mulheres, que certamente é um dos pontos que mais me irritou com a descrição dos tipos que ali viviam e não falo dos malfeitores. O fato é que no momento que os homens deixaram bem claro que as mulheres deveriam se sacrificar, eles também deixam claro que eles não passariam por esta humilhação. Humilhação esta que deveras me chateia, afinal eu possuo um tanto daquela chama feminista que não tolera o jeito como as pessoas - homens e mulheres - pensam do sexo feminino e como parece direito que as mulheres se submetam. Admito que o fato do médico ter se deitado com a mulher de óculos escuros enquanto sua esposa via, me tirou um pouco do sério. Principalmente considerando que o livro não mostra em momento algum que ele tomou a mulher para si, por vergonha na frente de outros. Todavia, não teve problema em se deitar com uma "estranha" quando todos poderiam ouvir.  E quando a mulher do médico, munida de força que só a raiva, a vingança e a necessidade de providência podem criar. Refiro-me a simplesmente acabar com a garganta de alguém com uma tesoura e matar outros dois. |Obvio que o fato dela não ter pego o revolver me revoltou bastante, foi idiota, mas as pessoas fazem coisas idiotas. Prefiro não mencionar o incêndio, aquilo foi de sobremaneira idiota pelas proporções catastróficas causadas. Claro, que se não fosse por isto, não haveriam se atrevido a sair. E ao sair do manicômio, o mundo que encontram é genialmente descrito. Todo o horror e a naúsea, o que a humanidade faz quando as formas de organizações antigas não podem mais serem postas. A superação da mulher do médico em sustentar e prover o melhor possível os outros seis, em destaque o velho da venda. Alias, acho interessantíssimo o rádio dele figurar com sua aparição. Mas, a descrição das ruas, dos locais, os cegos vagando, os dejetos, a degeneração, a morte, os animais soltos... E por mais que o livro aparentemente nos presenteie com um final feliz, talvez o melhor final para fins práticos da história fosse que a cegueira permanecesse, que o véu branco continuasse sobre eles. Decerto que a sujeira e putridão existente nas cidades e em breve nos campos, transformaria nosso planeta em um grande caminhão de lixo. Só que como se reorganizar depois de tudo o que passaram e fizeram? Depois de tudo que consideravam antes sujo e indigno? Como se organizar novamente de maneira a limpar a cidade? E os cegos, realmente cegos? Como estes ficam? Será que todos irão querer voltar a suas casas regulares? Será que a inflação voltará a ser controlada e as pessoas que perderam todo seu dinheiro... O que fazer? Não tenho a resposta, certamente será preciso mais do que um par de anos para que tudo retorne a regulariedade e provavelmente o mal branco não alterará em nada as pessoas, porque depois de um tempo, todos esquecem e voltam as suas vidas regulares. Sei também que após a felicidade e extase de voltar a enxergar, todos se voltarão para o estado em que se encontram, como seu mundo se encontram, onde há pessoas mortas em todas as ruas... Um livro bom em seus detalhes, em não representar uma sociedade útopica que teria se mantido organizada, em representar o pior do ser humano. E o desfecho, fosse "bom" ou "ruim", eles vontando a enxergar ou não, permanece como uma incógnita o futuro destes ex-cegos.


Citações

"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa somos nós"

"Quando a aflição aperta, quando o corpo se nos desmanda de dor e angústia, então é que se vê o animalzinho que somos."

"O mundo caridoso e pitoresco dos ceguinhos acabou, agora é o reino duro, cruel e implacável dos cegos."

"Que tendo começado por mandar as mulheres e comido à custa delas como pequenos chulos de bairro, é agora a altura de mandar os homens, se ainda os temos aqui, Explica-te, mas primeiro diz-nos donde és, Da primeira camarata do lado direito, Fala, É muito simples, vamos buscar a comida pelas ossas próprias mãos, Eles têm armas, Que se saiba só tem uma pistola, e os cartuchos não vão durar-lhe para sempre, Com os que têm morrerão alguns de nós, Outros já morreram por menos, Não estou disposto a perder a vida para os que mais fiquem cá a gozar, Também estarás disposto a não comer se alguém vier a perder a vida para que tu comas,perguntou sarcástico o velho da venda preta e o outro não respondeu."

"Não irão apenas os homens, irão também as mulheres, voltaremos ao lugar onde nos humilharam para que da humilhação nada fique, para que possamos libertar-nos dela da mesma maneira que cuspimos o que nos lançaram a boca." - Mulher do médico

2016

Texto de outubro de 2009 sobre Rio 2016

Recentemente cada dia meu parece durar 48 horas por tanta coisa que acontece. Ao mesmo tempo que parece durar apenas 2 horas por tanta coisa que não consegui fazer. Já que resolvi deixar de lado meu sono hoje resolvi parar para escrever um pouco sobre O acontecimento da semana passada que não foi tanto O assim.
Obviamente estou falando da escolha do Rio, Rio 2016. Eu tenho algumas contradições sobre o assunto, inevitavelmente. Primeiramente por minha tendência patriótica e um pouco nacionalista. Porque de certa forma eu me sinto orgulhosa de ver o Rio atingindo tal marca e chamando atenção internacionalmente por algo mais do que Copacabana e mulher pelada.
Segundo, é a minha cidade sediando os primeiros jogos olímpicos na América Latina. Copa do Mundo? A Copa é a cara do Brasil, nada mais esperado ser aqui. Era óbvio que um dia ela ia voltar para cá. Não esperava as Olimpíadas. Não acho que temos ou teremos condições de lidar com a infra-estrutura necessária. Não acho que vai melhorar alguma coisa para os cariocas. Nem um pouco.
2016 vai ser um caos urbano. Alias, até 2016 nós iremos entrar em um bando de obras e iremos ver dinheiro público ser gasto e desviado das mais diversas formas. É como dar um alvará para os corruptos. Diversas obras para desviar dinheiro. Muito legal. Enquanto isto a população irá continuar carente. Iremos sediar não só um, mas dois mega-eventos. E iremos mostrar a face mais bonita do Rio. De forma que os "gringos" vão olhar e achar que tudo aqui é perfeito, assim como tantos fazem ao ver as "Ouropa" de longe. Iremos enviar as milícias para algumas favelas. Em outras o governo irá pagar para que não haja revolta. É assim que funciona.
Ao mesmo tempo sei obviamente que estas obras, pelo menos parte delas, realmente serão feitas. Não há outra escolha. Precisamos no mínimo de mais 7 lugares para competições e lugares fixos. Estas obras gerarão emprego. Bem ou mal, a Copa do Mundo mais os Jogos Olímpicos geraram empregos mesmo que estes sejam provisórios e de baixa renda.
Assim como todos os projetos sociais envolvendo esporte serão valorizados. Não acho que iremos fazer como a China e criar em 7 anos adolescentes mega-esportistas, mas certamente os melhores de cada grupo passarão por um treinamento árduo a partir de agora. Como cidade-sede estamos inscritos em todas as competições ou ao menos 70%. Vamos criar atletas em áreas que não temos histórico nenhum. É a chance do Brasil ganhar mais medalhas. Quem sabe a tão esperada medalha de ouro no futebol? A falta dela já está se tornando irônica demais.
Nem lembro mais os outros pontos que queria discursar e sinceramente. Vou voltar para os meus livros aqui já que estou condenada a ficar em casa durante um tempo. See ya

Violino

Texto de setembro 2009

Estes dias eu estava tentando fazer meu top 20 de livros. E ao colocar Anne Rice, constatei que isto não é verdade. Meu primeiro contato com ela realmente veio por intermédio de Entrevista com o vampiro. Sim, eu fiquei encantada com o livro. Contudo admito que boa parte deste encantamento tem a ver com a história e não com a maneira que ela escreve. É difícil eu considerar que um autor escreve realmente bem. E Entrevista com o Vampiro ainda soava infantil. Ainda em 2006, resolvi dar uma chance para Chore para os céus. Já o considerei melhor. Não terminei o livro, pois o havia pego na biblioteca aqui da Ilha e tive de devolvê-lo e havia uma fila atrás dele. Não voltei lá para procurá-lo depois disto. E atrás de outro livro da Anne Rice, Violino chegou em minhas mãos. "Delírios fantasias, horrores e terríveis verdades". O livro logo me atraiu. E o jeito do Stephan piorou tudo.O fato é que até onde eu me lembro, violino foi o segundo livro que eu li que me fez chorar. O primeiro, Meu pé de laranja lima, e considerando a época que eu li Violino, não vejo tantos motivos para ter me tocado tanto. E entre suas 286 pág., uma passagem específica me abalou. Por motivos desconhecidos digo logo. E hoje a transcrevo aqui:

"E o pensamento era o seguinte:
Você não pode negar os erros. Não pode negar o sangue que está em suas mãos ou em sua consciência! Não pode negar que a vida está cheia de sangue, que a dor é sangue, que o erro é sangue.
Mas, há sangues e sangues.
Só um certo sangue vem das feridas que infligimos a nós mesmos e uns aos outros. Flui brilhante e acusador, ameaça levar consigo a própria vida o ferido este sangue... Como cintila, como se comemora este sangue sagrado, sangue que foi sangue de Nosso Senhor, que foi o sangue dos mártires, o sangue no rosto de Roz e o sangue em minhas mãos (o sangue dos erros)
Mas, há outro sangue.
Há o sangue que flui do útero de uma mulher. E que não ´sinal da morte, mas a marca de uma fonte grande e fértil. Um rio de sangue que pode eventualmente formar de sua substância seres humanos completos, é sangue vivo, sangue inocente..."

Minha passagem favorita do livro, apesar de que na época eu já possuia uma segunda favorita que hoje em dia é a primeira:

" A saudade é sóbria. A saudade não grita. A saudade só vem muito tempo depois do horror ante a visão do túmulo, do horror na cabeceira da cama. A saudade é sóbria e é impassível"

Tentada a fazer um post sobre cada um dos meus livros favoritos, mas impossível se resumir ao top 20

CEFET

Texto de 12/2009

Estou a segurar quaisquer eventuais lágrimas por hoje na tentativa de guardá-las para amanhã. Por mais que o dia de hoje esteja pedindo por elas. Clamando, para ser mais exato. Um dia marcado para ser nostalgico, apesar de não tanto quanto amanhã. 
Dias fadados a serem nostálgicos. O CEFET foi e será, em minhas memórias ao menos, o local em que me senti mais a vontade. Onde eu encontrei pessoas com quem eu gostava de conversar sem me enfadar, onde eu não era a única a conhecer animes, mangás, rpgs em geral... Um local onde eu passaria até mais de 12 horas, fora o tempo em casa. Dedicação exclusiva que eu aceitei dar sem reclamar. E eu lembro de tantos detalhes, tantas conversas, algumas brigas, problemas sem dúvida, confusão mental, acordar cedo, trânsito... E apesar de tudo, me sentir feliz por estar indo ao colégio. Não irei mentir dizendo que isto foi verdade todos os dias, houve uns que cheguei lá arrastada, de mal humor e que simplesmente me isolei. Acontece. O CEFET continua sendo meu "lugar ao sol". As pessoas que ali me amiguei se tornaram especiais cada uma de uma forma, é clichê dizer, mas acho que todas elas de alguma forma me ensinaram algo. Mesmo que fosse como não fazer alguma coisa ^^Nos outros colégios em que estudei, eu tive de aprender a apreciar o local. Com o CEFET foi o contrário. Lembro ainda do dia da matrícula, eu passando pelo bosque. Aquele local é a minha primeira imagem do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. Não era o recanto em que eu me encontrava boa parte do tempo. Entretanto, era o local que eu gostava de observar. Todas as nuances de cores, os sons, os gatinhos - que estão ficando mais educados ultimamente - Tudo tão aconchegante que eu poderia jurar que não estava mais no colégio.A sensação de pertencer, de estar em casa, vai passar, eu sei. Poucos anos se passarão e eu voltarei lá e não reconhecerei aquele lugar como um lar. Por ora, eu quero aproveitar estes últimos dias, últimos dos últimos. Tentando me lembrar de tudo e ainda assim segurando o choro.Contudo, é difícil ante a visão de coisas simples e ainda assim importantíssimas. Os armários rabiscados, as pixações aleatórias, recados em livros, apresentações de trabalhos e salas de aula. D326, 1MMED 2007, a melhor turma. Lembro da semana "perfeita" minha e da Alana, com a visita técnica no centro, comer na fonte da Veiga, desconfio, mau-mau, vendo Quebrando a Banca por 2 reais no cinema, vendo Ultimato Bourne com uma galera que não viu os outros 2 filmes (aliás, só eu vi a trilogia, mas ok) e brigadeiro. Brigadeiro de Lanuxa. A semana mais especial do primeiro ano , sem dúvida.Lembro bem do dia do trote. E é engraçado notar que os calouros daquele dia, meus companheiros de trote, foram meus verdadeiros companheiros de CEFET. Claro que a eles se somam algumas poucas pessoas. Mas, a Lana, Bia, Marlon e Tâmara, que estiveram presentes naquele início marcaram o primórdio. Somando-se a eles minha gêmula, Verton e Tóia, acho que temos o octeto de turismo. Um povo que fez minhas manhãs mais agradavéis. Amanda com seu jeito Adriana então...São pessoas que me fizeram rir, sentir raiva, pensar, me preocupar... Eu realmente não deveria citar nomes, mas estes foram os que eu mais me importei. São estas as pessoas que fizeram parte de toda a minha estadia no CEFET.E nesta reta final, só queria virar para um calouro e falar claramente para ele que estes serão os melhores 3 anos da vida deles. Que eles devem ser inconsequentes e se preocupar menos e aproveitar ao maxímo. E não passarem pelo CEFET como se estivessem em um colégio comum. Nunca um local pode fazer tanta diferença em minha vida. E eu sei que tomei a decisão correta em voltar um ano. Ali muito aprendi, muito aproveitei, tive de me moldar para notar que não deveria tê-lo feito. E nestes últimos meses, tomei o caminho certo. Só me arrependo de não haver mostrado mais quem eu era para todos, de aparentar ser tão feliz, e meu único consolo é que as pessoas que me importam mesmo, nunca se enganaram. Não totalmente... E como já disse, nos últimos meses, fui ainda mais feliz naquele colégio, por aos poucos conseguir dizer um pouquinho quem eu sou. Não totalmente, eu sei. Mas, mais do que já mostrei.Sentirei saudades. Por cada vão momento, cada aprendizado, cada loucura, cada almoço, cada trabalho bizarro e legal. Amo, amo muito este local. E agradeço por ter estado lá. Saudades...

Desesperançado

Texto de 05/2010 
É possível ouvir ,a alguns passos de distância, sua respiração.Quase sem fôlego, ele corre sem destino, buscando um esconderijo contra o inevitável. Tosse. Na mão elevada a boca se encontra respingos de sangue. O terror percorre seus olhos. E neste momento ele para de correr. Uma dor agoniante percorre todo o seu corpo assim que ele relaxa. Uma varredura brusca o leva a origem da mesma.
O corte vertical possuia uma extensão mínima, se iniciava perto do final do osso externo até a altura do baço. A profundidade do corte mostrava que quem o fez estava de posse de uma lâmina afiada e que possuia o mínimo de perícia. O corte era limpo, não sangrava demasiadamente, apesar de desconfiar de uma perfuração em algum dos órgãos. Provavelmente foi feita enquanto estava desacordado.
O que não era capaz de entender era o porque de tal ação. Era um sujeito pacato, entregou seus pertences sem pestanejar.Ele se recordava apenas do soco forte e dos homens o cercando. Não possuia muitos bens, apenas uns briquebraques sem valor comercial.
O porque de tal violência o encucava. Tudo o que tinha em mãos já pertencia a eles... Por que o corte?
O medo o assombrou momentaneamente. Medo de uma sociedade que já não mais respeitava ninguem. De uma sociedade que matava os inocentes sem justificativas, por mais bobas que estas sejam. Sente neste momento a dor que apenas o estado lastimável que o mundo se encontra pode causar.
A dor da inatividade, da fraqueza, de saber que se é inútil tentar, de como é insuportável viver em um mundo tão obscuro e tão vazio. Poderiam dizer a ele, alguém poderia sussurrar em seu ouvido que a humanidade não é toda assim. Não obstante, ele não é um tolo. Ele conhece a realidade.
Se apercebe que correr não é mais importante. Considerando a extensão de seu corte, se estivessem atrás dele já o teriam alcançado. Agora ele foge da dor. Busca com os olhos um abrigo, qualquer local em que possa descansar sem correr o risco de se aproveitarem de sua fragilidade. Acha difícil que um local deste exista, mas ele busca. Com a falsa esperança dos tolos.
"Aproveitador"
"Usurpador"
"Acha que eu sou trouxa?"
"Deixar você descansando? Por quanto?"


As reações diversas mostram a ele que sem dinheiro você é outra pessoa. A bondade das pessoas é constantemente proporcional ao peso que tens nos bolsos e esta é a tola verdade. Cambaleando, após sair do último estabelecimento, ele se encosta a uma quina. Sente sua mente falhar. Seus pensamentos não mais soam lógicos. Tudo o que sente depois é o concreto frio.


Texto mal escrito e antigo. Postado apenas para eu parar de pensar nele.

Dia 6 Segurança

É engraçado como existe aquele lugar que é simplesmente seu. E por mais perfeito que ele seja você sabe que um dia vai olhar para trás e não vai sentir mais a mesma coisa. As coisas mudam, sempre. Gary não gosta quando eu falo isso, mas é verdade. E está tudo bem, não significa que o que era sua casa antes deixou de ser importante, significa que você mudou e fez outras casas. Acho.
A verdade é que eu não consigo imaginar outro lugar com uma sensação de segurança tão grande quanto aqui, deitada na minha cama. Daqui eu consigo ver a porta e a janela. No caso entre as frestas da janela. Consigo ver a mesa acompanhada da antiga cadeira de madeira que tem quatro pés pintados de cores diferentes. Não há um armário, o que há são 2 longas tábuas servindo de prateleira uma embaixo da outra e há livros pelo chão. Minha bolsa está sempre ao pé da cama, sempre acessível e eu já planejei um milhão de rotas de fuga estúpidas, mas que me dão uma segurança enorme ao saber que não estou trancada.  Apesar de que pular do segundo andar é sempre uma ideia estúpida.
O quarto é lilás. Foi pintado em outra era, para outra garota, mas ainda dá para ver que a cor era lilás. Existem diversas marcas, eu sei que causei a maioria delas e só eu entendo o que elas causam em mim. E apesar de todas as particularidades, de ser aqui que todas minhas coisas ficam, aqui onde eu não tenho que dormir abraçada com a minha bolsa, onde eu posso dormir de pijama, eu sinto falta do esconderijo de ontem. Aquilo ali tem tanto potencial. E só a desvantagem de ser tão perto da cidade.
Claro, no momento é impossível. Eu tenho que fazer meus turnos todos os dias e aqui fica bem mais perto e existe ainda as crianças para olhar. Mas, esse é meu último ano antes de pedir a transferência e parece tão esquisito sonhar com esse tipo de independência. Não é tempo para sonhos, ninguém fala disso. Não é como se eu fosse para um apartamento legal, arranjar um emprego, ir para festas a noite e conhecer pessoas.
É só que eu vou poder ir para um lugar onde posso ver as estrelas praticamente toda noite e eu não tenho que falar com ninguém. Isso já me parece bom o suficiente. Ou é apenas minha mente tentando arranjar uma distração da realidade.
Quando batem na porta, eu me levanto rápido. O velho finalmente chegou. Pego a minha bolsa e abro a porta. Gary. "Ele está no escritório, quer falar contigo."
"Estou ocupada". Não, não estou. Mas, vale a pena ver a cara de choque do Gary. Sempre tão bom soldado, obedecendo a tudo que ele nem consegue ver que eu já estou indo em direção ao escritório, só batendo a porta atrás de mim.
Elas fecham automaticamente. As portas. Só bater, não precisa passar trinco. Quando eu lembro da primeira noite que eu passei na casa anos e anos atrás, eu lembro da segurança que isso ofereceu. Eu lembro que eu estava com tanto medo de tudo, medo do velho que eu achava que ele tinha me resgatado para fazer algo ainda pior comigo. Mesmo sendo difícil imaginar o que seria pior do que ser vendida. Mas, eu lembro do alívio de quando ele me deixou no quarto e me mostrou que só eu podia abrir a porta e finalmente eu pude respirar tranquilamente.
O escritório na realidade é só um pequeno quarto no primeiro andar, perto da cozinha. Era o quarto de empregada antigamente. Abro a porta sem bater. Apenas para ser repreendida com um olhar. "Aparentemente só é necessário um dia fora para esquecer tudo que aprendeu nessa casa." Ele diz sem nem desviar o olhar do caderno a sua frente.
Esse é o jeito dele de demostrar carinho, eu sei. Então eu so me sento a sua frente e espero. "Gary me disse que você não foi no seu turno. Ele me disse tambem que você machucou a perna entretanto ele não sabe me dizer como." 
Não são perguntas. Sinto meu rosto enrusbecer.  Nao é de culpa. Um pouco de raiva, um tanto de ansiedade e uma vontade de esfregar na cara dele o embrulho.  Se eu não tivesse ido ao centro pegar a encomenda não teria uma perna enfaixada, não teria perdido o turno e nem o jeans que eu gostava. Nem a camisa. E também não estaria tendo essa conversa.
Apesar que conversas precisam ser pelo menos bilaterais. 
Eu sei que é um teste como sempre. Ele quer que eu controle minha ansiedade, meu orgulho. Que eu aprenda a ouvir calada, porque ano que vem é ano de ser jogada aos lobos e eles não vão ser coniventes com meu comportamento. A consciência de que é proposital não me ajuda em nada a me acalmar.
Fico calada, isso ao menos eu sei fazer. Quando nenhum comentário adicional vem, eu espero. Quando passa quase 10 minutos de silêncio, eu sinto minha resolução começar a se abater.
Como um relógio marcando o tempo, ele finalmente fecha o caderno e olha para mim. Dá para ver o quanto ele está exausto, os vincos na testa estão mais profundos do que o normal e essas olheiras não estavam desse tamanho da última vez que eu notei.
"O que houve ontem?"
Me ajeito na cadeira antes de começar a história. "Correu tudo bem, eles estavam no local marcado. Três deles. Cheguei mais cedo, deixei o dinheiro escondido como você mandou. Eles entregaram o pacote, eu conferi. Bem básico."
"Nenhuma reclamação sobre a quantia então?"
"Não, eles nem contaram sinceramente. Pareciam...um tanto quanto bêbados."
Eu sei melhor do que mencionar a verdade. ASD, há dois anos que a droga começou a ser comercializada nos guetos e desde então as vendas nunca diminuíram. Os três caras de ontem com certeza consumiram mais do que sua dose diária habitual, sendo sincera eu achava que eles nem iam pegar o dinheiro.
"Ótimo, se eles tivessem noção da fortuna que deixaram de ganhar, nós teríamos problemas." -E é como se o homem de negócios fosse embora. A postura relaxa, ele bagunça os poucos fios de cabelo que tem e bota aquele boné azul tão usado que eu já aprendi a associar a casa, e solta finalmente um sorriso. "Então eles foram embora e por que você não veio para cá de volta, eu juro que ficamos preocupados?"
Eu relaxo também, nem havia notado o quanto minhas mãos estavam tremendo só para me segurar. Entrego logo o pacote para ele, prefiro ficar com isso longe de mim agora. "Faltou luz e eu ainda estava perto da cidade. Fiquei por lá então. Aí hoje eu consegui ter um acidente de ônibus, legal não?"
"Bem agitada sua vida"- dentro do pacote o disco rígido. O velho disse que valia realmente muito dinheiro no mercado da cidade alta. Difícil de acreditar, não se vê ninguém com computadores sem ser o exército e mesmo assim raramente, o exército não teme a si mesmo. "Os curativos? Gary disse que apesar de estar feio não foi nada tão grave."
"Não senhor, nada que semana que vem não esteja normal."
Com um aceno de cabeça, ele me despensa e se vira para o telefone. Eu sei minha deixa e sinceramente comida de verdade me parece mais interessante nesse momento. Antes de eu sair ele ainda me lembra, como sempre, que eu posso dizer se tiver algum problema.
Eu sei que ele não está pensando em mim exatamente. Mas, o carinho pelo menos dá uma ilusão de normalidade. Gary está cozinhando hoje, devia ser eu, claro que a desculpa de não poder ficar em pé muito tempo só funcionará até o café-da-manhã. E eu nem sei do que ele reclama, mingau nem é realmente difícil de ser feito. Mesmo que inclua duas crianças.
Gabriel e Raphael já estão sentados com suas tigelas a frente. Não tenho certeza se a mistura roxa a frente de Gabe é realmente mingau. Geleia de uva, é a explicação que Raphael dá. Alguns minutos depois o velho se junta a nós. 
É tao fácil se distrair do mundo lá fora. Do turno de amanhã, do aniversário chegando quando se está em casa. Quando tudo que você vê ao seu redor te lembra estar em casa. Te lembra que aqui ninguém pode te atacar, que aqui você pode rir em paz e as crianças tem até um quintal para brincar. É facil ignorar tudo. Até mesmo a cadeira vazia ao meu lado.Até mesmo a falta da voz dele e das brincadeiras. Gary me encara, mas nenhum de nós dois vai se atrever a falar algo. Nós não falamos sobre ele.

Dia 7 Zack, rascunho

As palmas de minhas mãos cobrem continentes
Quando alguem que você gosta morre se forma uma ferida. Algo que você espera que cicatrize mas parece que você tem alguma especie de doença e o negócio nunca fecha. Ele vai fechando aos poucos só que provavelmente ele ainda vai estar aberto quando você morrer também. E se você teve sorte na vida você vai deixar um buraco também e assim todos temos essas estúpidas cicatrizes.
Quando alguém que você gosta vai embora, mesmo podendo ter ficado o buraco é menor. Há uma magoa que não havia antes, um amargor. O problema é que a casca dessa ferida pode ser arrancada múltiplas vezes.
Eu sinto falta do meu pai, eu lembro pouco da minha mãe. Eu já me conformei em não ter nenhum dos dois. Zack é diferente. E entre a imundície do centro da cidade eu procuro por ele mesmo sem esperanças de achar.
Se eu passasse pelo centro de ônibus todo dia, acho que todo dia eu observaria com a mesma esperança depressiva e é por isso que eu não acho que nos quatro anos que se passaram esse buraco está mais perto de fechar.
Por isso não fico feliz de sair do campo diretamente para cá. O velho disse que eles estariam esperando nessa esquina. Quando dá o horário não há sinal dos dois.
Ninguém gosta verdadeiramente de esperar. Eu especialmente. Duplamente especialmente considerando que estou apoiada em um carro empoeirado numa esquina não asfaltada e os prédios baixos semi abandonados ao redor só me fazem acreditar que algo vai me atacar em breve. Eu sei me defender. Mas prefiro não ser atacada, entende?
Dez. Quinze. Vinte minutos depois tem movimento no final da rua. Movimento demais. O Ford para na minha frente com Gary mandando eu entrar correndo. Você sempre obedece quando alguem faz isso. Depois você pergunta porque, mas primeiro você faz.
-Coloca o cinto. diz o velho dividindo sua atenção entre o retrovisor e a estrada a frente. Gary não desgruda os olhos do eespelho e sem querer parecer alarmada mas eu acho que é uma arma que ele tem nas mãos.
Não estamos a duas quadras de distância quando surge uma caminhonete no final da rua e eu sou eternamente grata pelo carinho com que o velho cuida dos seus carros porque aquilo ali com certeza deveria ser mais rápido que a gente.
Conseguimos manter a distância. Mas eles continuam atrás de nós e eu preferia ter ficado esperando do que estar aqui agora.
"Siga pela direita"diz Gary "a segunda avenida está cheia de destroços ainda,o carro não vai passar".
Mas o velho vira a esquerda para o choque de Gary que não exagerou sobre o estado da estrada. Há lixo revirado, carcaças de carros abandonados e pássaros tentando achar alimentos. Mas o pequeno ford passa sem grandes problemas. A caminhonete não. 
Viro para trás e vejo a distância aumentar. 
Suspiro. "Próxima vez sem emoção, por favor"
"Nós só iamos vender algumas peças sobressalentes, como te disse ontem. Mas aí eles não queriam entregar o valor combinado."
"E aí vocês começaram uma emocionante perseguição de carros?"
"Nao.  Aí nós resolvemos não vender." -diz o velho "agora vocês vão dar uma olhada nos potenciais compradores no mercado enquanto eu vou até as docas pegar mais comida. Em meia hora estarei de volta, tratem de usar seus rostos bonitos e lucrar."
E assim somos deixados na entrada do gigantesco galpão negro.
Ele nos deixa a frente