sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Novo quarto

Esse texto é pessoal e um oferecimento de amáveis tardes de chuva junto com perguntas da minha mãe.
Todos os erros de coesão são minha culpa e não pretendo conserta-los.

Não creio que devesse chamar de novo um quarto que já me pertence a três anos praticamente, entretanto em contraste com os dezoito anos de quarto rosa com verde, parece de fato  um tempo irrisório. E só agora ele vai tomando um formato com os detalhes e bagunça usuais e nem de perto está completo.
Tem a parede creme que falta cor, para isso preciso testar a cola de contato antes de estragar a pintura.  Tem o baú gigante que guarda todos os cadernos praticamente da minha vida além da coleção de mangás devidamente ensacada, que em breve irá se tornar um banco também, assim que eu achar duas almofadas do tamanho das tampas e coloca-lo encostado na janela.
Tem a "arara" com as roupas de inverno que só me fazem pensar que eu precisava estar morando na Europa, que eu preferia que não estivesse apoiada naquela parede. Tem o armário gigantesco, que só uso um quinto dele, mas que pelo menos esse um quinto encontra-se arrumado e as gavetas coloridas.
 Tem dois quebra-cabeças de mil peças colados que ainda não foram emoldurados em cima da escrivaninha, assim como um quadro do Wolverine que eu nem sei como abandonou o quarto do meu irmão para invadir o meu.
Tem o quadro magnético com lembranças de anos atrás que não tenho coragem de retirar. Até porque tem a parede preta para eu escrever com giz e colar o quanto eu quiser. Tem os origamis espalhados pelo quarto, assim como o dsi sempre em algum canto. Dentro das gavetas da escrivaninha, tem os jogos de PS2 que eu não gosto tanto e quando não estão na minha mochila, os cadernos do momento. Tem as Mundo Estranho e revistas de arquitetura e o livro sobre as maravilhas do mundo e no momento o livro do Museu D'Orsay.
Tem cinco prateleiras, com meu tabuleiro de xadrez de pedra sabão (porque o de barro fica guardado), a coleção de YuYu Hakusho, uns poucos dvds, quadrinhos do Charlie Brown e da Mafalda, a prateleira de livros lidos e a prateleira de livros não lidos e livros a serem devolvidos. Tem aquele globo, que tanto me encantava quando era pequena. Tem as revistas da Turma da Mônica que eu quero reler.
Tem os antigos livros preferidos. Peter Pan, Se houver amanhã e Brumas de Avalon contrastando com os atuais 1984, Admirável Mundo Novo, Eu,Robô,  Ensaio sobre a cegueira, O Nome do Vento e A Menina que roubava livros. Tem A República que eu nunca acabei de ler, assim como A Tale of Two Cities. Não tem Crime e Castigo e nem Guerra dos Tronos, mas tem Anne Rice.
Tem o tatu e a tartaruga de pelúcia que vieram para substituir o ornitorrinco perdido e tem o Snoopy abraçado com o Woodstock que eu tanto insisti nos meus anos mais viciados em Charles M. Schulz.
Tem tanta coisa e tem tão pouco ao mesmo tempo. Provavelmente tem mais coisa minha no antigo quarto, agora escritório, do que no meu. Ou talvez seja só impressão já que a coleção de Harry Potter, O Hobbit, a  minha frustração em matéria de livros em inglês, The Silmarillion. Os jogos de tabuleiro -inclusive o War Império Romano quase nunca jogado- e o número enorme de revistas estão lá.
 E se tudo isso se perdesse? Minha mãe me perguntou isso hoje. Tenho certeza que o real motivo da pergunta é: O que você pode jogar fora? E eu concordo, é muita coisa. Muita mesmo. Muita tranqueirazinha, coisas que se acumularam no caminho. E é justamente por isso que é difícil deixa-las por livre e espontânea vontade. Estava revendo algumas folhas com desenhos antigos numa pasta também antiga. Estava pensando como parte daquelas coisas parecem tão estúpidas hoje em dia, mas como significaram antes. E que talvez por isso elas sejam importantes. Para me lembrar do que fazia sentido antes e hoje em dia não faz mais.
Ou talvez por isso elas sejam desimportantes. Porque talvez lembrar como você pensava não seja importante. Tendo a acreditar que o que realmente nos faz únicos é o jeito de pensar como um todo, quando penso que ser único é apenas uma invenção, algo que queremos acreditar. E eu mesma retruco e digo que podemos não ser exatamente únicos, mas com certeza não existe tanta gente igual mesmo a nós por causa do meio que nos influencia e que dificilmente seria reproduzido com exatidão.
E de fato, guardar nada faça sentido já que tudo isso representa uma sociedade que tenta se definir por seus gostos e padrões de consumo ao invés de por sua mente. E que qualquer tentativa de não fazer parte dessa sociedade tendo gostos considerados estranhos é participar dessa sociedade de outra maneira. Que nossas vontades são inventadas e que não tenho necessidade de ter meus livros favoritos. Nem meus filmes (não os tenho de fato, só no hd). Que vivemos de lembranças e nostalgia para criarmos uma certa identificação com pessoas com idade próxima e que de algum modo se conectam a nós e que com essas coisas mostramos o quanto fomos fãs também.
E na verdade tudo isso é tão inútil, supérfluo e extremamente... bobo. Ao mesmo tempo que é importante termos um lugar que aja como um porto seguro. E ao mesmo tempo, esse porto seguro não é necessário porque ele faz com que tenhamos mais necessidade de permanecer ao invés de arriscar.
Foi essa a resposta que dei para a minha mãe. E foi assim que ela desistiu e deixou as folhas, cadernos, revistas, ficarem mais um tempo.

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